Marta Soler Balcells

“No sólo cocina…el verdadero deporte de la mujer”

Marta  é vice-presidente da Asociación Internacional de Hockey Patines Femenino (AIHP).

- Marta, de onde surge a tua paixão pelo hóquei?

Comecei a jogar hóquei aos 11 anos em Igualada. Todas as crianças do meu bairro descíam para jogar na rua: basquete, futebol, basebol, bicicleta... até que um dia deu-nos para jogar hóquei. Ramos de árvores, tijolos como balizas, valia tudo. Um dia, Joan Carles, um vizinho do bairro que era jogador do Barça, trouxe-nos sticks velhos para todos/as e alguns/umas inscrevemo-nos para patinar no clube da cidade. Assim começou tudo...

- Quando e como começaste?

Ainda que soe estranho comecei a jogar hóquei num clube de natação porque o clube de hóquei de Igualada não queria raparigas. As pioneiras do hóquei da minha cidade (à uns 20 anos atrás) tiveram que recorrer a todos os clubes da cidade (de futebol, de ping pong...) até que o club natación igualada as quis. Hoje em dia o IHC já tem hóquei feminino, apesar de ser só há 3 anos...

- Para além de desportista, és educadora social e estás a estudar pedagogia (licenciou-se o verão passado). Como fizeste para poder conciliar os estudos e dedicares tempo ao hóquei?

Se gostas das coisas que fazes é tudo mais fácil... tentei sempre guardar espaço para os estudos e para o desporto. Até acho que fazer várias coisas às vezes ajudam-te a organizares-te melhor.

- No que diz respeito ao hóquei não estás apenas ligada como jogadora, mas também fazes parte de uma associação, onde fazes uma grande divulgação deste desporto, nomeadamente das situações relacionadas com o desporto feminino, neste ultimo aspecto que tipo de projectos/actividades podes destacar?

Realizamos congressos sobre Mulher e Hóquei, torneios de promoção do hóquei feminino, All Stars, clínicas para raparigas, assessoria a clubes, federações., investigações sobre a história do hóquei feminino, estudos sobre a mulher desportista… O nosso objectivo é fomentar a igualdade de género no hóquei e que cada dia haja mais mulheres a praticar desporto.

- No nosso país, é possível dedicar-se ao hóquei feminino de forma profissional?

Para uma mulher, e pelo facto de ser mulher, viver do desporto é muito difícil. E o hóquei em patins também não escapa a esta realidade. Em Espanha podemos encontrar clubes na Catalunya, Madrid, Asturias, … que começam a dar importância ao hóquei feminino e a compensar economicamente algumas jogadoras.

- E nas Astúrias, pode uma mulher ter um lugar no hóquei e ser sua profissão?

Existem alguns clubes como o Biesca Gijón que estão a permitir que seja possível para algumas jogadoras dedicarem-se ao hóquei como profissão.

- As mulheres encontram os mesmos apoios que os homens nesta modalidade desportiva?

Não contamos com os mesmos apoios. Se os tivéssemos haveriam muito mais jogadoras porque os clubes e as federações preocupar-se-iam em procurar raparigas ou criar equipas femininas da mesma maneira que fazem com os rapazes; As raparigas começariam a jogar com a mesma idade que os seus amigos; As equipas femininas teriam treinadores/as melhor formados; As nossas equipas contariam com médicos/as e fisioterapeutas; Haveria igualdade de salários e prémios; A idade de abandono das jogadoras seria muito mais alta porque teríamos mais incentivos para seguir…

- Há uns meses apresentastes uma mesa redonda sobre a perspectiva de género nos treinos e na competição do hóquei em patins. Podias contar-nos um pouco as conclusões a que chegaram?

A principal conclusão a que se chegou foi que no hóquei (e em muitos desportos), as mulheres estão a ser treinadas por um treinador masculino, desde a linguagem, aos métodos de treino, passando pela preparação física, a direcção de vestuário, a comunicação….a mesa redonda reportou vários conhecimentos a respeito destes temas.

Nota: O que se falou na mesa redonda sobre a perspectiva de género trabalhou-se no IV Congresso Internacional Mulher e Hóquei que se realizou a 2 e 3 de Julho de 2010 em Gijón (Cetro Municipal del Llano).

- O que recomendas a uma rapariga que queira começar neste desporto?

Diria-lhe para se animar porque é um desporto muito dinâmico, rápido e divertido, e que iria conhecer muita gente.

- Há idade mínima/máxima para se começar?

Recomenda-se começar entre os 6 e os 10 anos, apesar de qualquer idade ser boa para começar, porque o hóquei pode viver-se também de maneira recreativa. Já vi mais de uma mãe e pai começarem a jogar hóquei por causa dos seus filhos e formar equipas de adultos!

- Conta-nos, na tua experiência, o que te deu um desporto como o hóquei?

Deu-me sobretudo amigos/as, viagens, momentos muito felizes e outros menos felizes, o sentir que fazes parte de uma equipa…o hóquei tornou-se a minha vida.

- Na actualidade consideras que se alcançou a igualdade em todas as modalidades desportivas ou que ainda existem desportos estereotipados em função do sexo?


Ainda que alterar mentalidades e tradições custe e seja um processo lento, estamos de certeza a avançar, cada vez há mais raparigas e mulheres desportistas; Estão a aparecer treinadoras, árbitras, jornalistas, dirigentes desportivas…onde antes haviam homens.

Quanto aos estereótipos, estes custam mais a desaparecer. Por exemplo, muita gente vê o hóquei como um desporto masculino como se os desportos tivessem sexo e como se os desportos de contacto só pudessem sem praticados por homens; O estereotipo de que a mulher é frágil o que o desporto masculiniza; O estereótipo de que as mulheres “não podem” ou não “sabem” jogar bem; Não se confia nelas para serem treinadoras de equipas importantes, há um telhado de vidro para as mulheres dirigentes.

Mas será a própria evidência da realidade a romper todos estes estereótipos. À medida que a cada dia existam mais mulheres desportistas, arbitras, directoras, jornalistas, formadoras desportistas… tudo isto desaparecerá.